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FJLES - Medical Play e preparação para procedimentos: intervenções para minimização do estresse e da ansiedade durante a hospitalização infantil

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O papel do Child Life Specialist e a utilização do recurso lúdico como método de humanização na saúde infantil

Quando uma criança é hospitalizada, interna-se também uma família. Com a rotina radicalmente transformada pelos procedimentos, exames e tratamentos, a criança e sua rede de apoio podem enfrentar sentimentos de ansiedade, medo e estresse, e mitigar essa possível experiência negativa é um dos objetivos da equipe do Child Life dentro do Sabará.

“A hospitalização infantil tem um grande potencial para se tornar uma experiência traumática, porque afasta a criança da vida cotidiana e do ambiente familiar, trazendo medos de mutilação corporal, medo da dor, ameaça de separação dos pais, perda da autonomia, mudanças na imagem corporal e a perspectiva de intervenções médicas potencialmente invasivas e dolorosas. Esses fatores e as experiências traumáticas vivenciadas podem favorecer o aumento do nível de ansiedade e estresse. Neste sentido, o Child Life é um profissional que tem o objetivo de mudar esse cenário por meio de intervenções lúdicas”, explica Giovanna Pombani, Coordenadora da equipe Child Life do Sabará.

Uma das principais atuações da equipe Child Life no Sabará é a intervenção com uso de bonecos que ajuda as crianças a expressarem seus medos, fantasias, receios e dúvidas de forma lúdica, uma vez que a brincadeira é a linguagem universal da criança. “Uma das intervenções que realizamos é o chamado medical play, cuja técnica envolve o uso de bonecos de pano e instrumentos médicos reais e de brinquedo, como seringas, aventais, máscaras de anestesia, luvas, entre outros. Durante essa brincadeira liderada pela criança, ela manipula e explora esses itens à sua maneira, o que oferece a elas a oportunidade de se expressar livremente. É uma intervenção que possibilita, portanto, a familiarização e a dessensibilização com os materiais médicos, o que pode reduzir a ansiedade e o estresse causados por fantasias e medos relacionados ao desconhecido”, explica.

Durante a exploração desses materiais, muitas crianças fantasiam que estão no papel do médico ou do enfermeiro, brincam de fazer procedimentos, curativos, aplicar injeções e medicamentos. É uma intervenção que pode ajudar a criança a lidar com as partes difíceis do tratamento, como agulhas, remédios e troca de curativos. “Se a criança encena, por exemplo, que sua boneca tem medo ou fica nervosa ao ver um novo item médico e se ela demonstra preocupação, ansiedade, entre outros sentimentos durante o medical play, as informações obtidas podem facilitar a compreensão de quais são os medos e fantasias da criança, sendo possível conversas e orientações, posteriormente”, completa a profissional.

Além do medical play, os bonecos também são utilizados durante a preparação da criança para procedimentos, exames e cirurgias. “A preparação é realizada de acordo com o nível de desenvolvimento da criança e de seu estilo de enfrentamento. No Sabará, utilizamos os bonecos, os livros de preparação e uma linguagem adequada, simples, clara e objetiva para explicar o diagnóstico, o tratamento e os procedimentos. Para isso, antecipamos tanto as etapas processuais quanto as etapas sensoriais, ou seja, o que a criança vai ver, cheirar, degustar, ouvir e tatear, utilizando os cinco sentidos. Isso pode aumentar a sensação de controle e previsibilidade, essenciais para que a criança consiga processar sua experiência dentro do hospital”, explica Giovanna.

O uso de bonecos e outros itens lúdicos no contexto da preparação para procedimentos é muito mais efetivo do que descrição puramente verbal, porque é uma forma de tornar a explicação concreta, o que pode evitar pensamentos fantasiosos e equivocados sobre determinado exame ou procedimento. “Em uma preparação para ressonância ou tomografia, por exemplo, conseguimos usar o boneco para explicar que a criança precisará ficar imóvel. Brincamos de estátua usando o boneco e treinamos junto com a criança os movimentos que ela precisará realizar. Já em uma preparação para cirurgia, por exemplo, utilizando o mesmo recurso, podemos treinar o uso da máscara de anestesia, demonstrando como será a indução anestésica. Ensaiar e planejar é muito benéfico e traz segurança tanto para a criança quanto para a família, que a vê brincando mesmo em meio a situações difíceis”, exemplifica.

Para Giovanna, um dos mitos que contribui para o aumento do nível de estresse dentro do ambiente hospitalar é que a criança deve ser poupada de detalhes essenciais do que vai acontecer com ela. No Sabará, a equipe Child Life entende que falar a verdade, sempre de acordo com a idade e nível de desenvolvimento do paciente, é o caminho para um tratamento humanizado. “O medo do desconhecido pode causar ansiedade e estresse, especialmente se ninguém explicou o porquê de estar hospitalizada. Quando a criança não entende os motivos, ela acaba entendendo o hospital como um lugar de punição e fica isolada em seus pensamentos fantasiosos. Muitas vezes, as pessoas acham que dizer para uma criança que não vai doer quando o procedimento será doloroso é o que adultos precisam fazer, mas é o contrário. A criança perde a confiança quando você mente para ela, e é importante que ela possa confiar nos adultos que estão ali. Quando a criança cria um laço de confiança e entende o que está acontecendo, isso contribui para as estratégias de enfrentamento e permite uma melhor adesão ao tratamento”, analisa a profissional.

Fonte: Fundação José Luiz Egydio Setúbal